O vento frio lhe golpeava a face enquanto ela estava sentada naquele velho banco. Ela ainda podia se lembrar do verão passado, quando se sentou ali com ele e ambos filosofaram sobre alguma coisa que na verdade não tinha importância. Ela podia lembrar, mas não podia sentir.
Uma mão tocou em seu ombro, por mais cálida que estivesse o toque era frio. Assim como tudo nele sempre fora. Sempre cético, sempre frio. Não havia lugar para ela e para todos os seus sonhos. Nunca houvera.
Por um momento ela desejou apenas que ele segurasse sua mão, entrelaçasse os dedos nos dela. Mas ele não o fez, no lugar disso apenas deu um longo gole na Guiness que segurava.
- É, pretinha, o inverno chegou. – ele disse olhando pro horizonte.- As coisas mudaram tanto.
- Mudaram e ao mesmo tempo, não. –a cabeça dela continuava abaixada.- Certas marcas, nós carregamos para toda a vida.
- Verdade. – ele se virou para ela e passou a mão por seus cabelos.- Espero que você possua uma visão mais realista do mundo agora, pretinha.
- Eu tenho. –a voz dela saiu dura e pela primeira vez ela levantou a cabeça. – E lhe devo isso. Lhe devo a perda dos meus sonhos... Sabe, você me ensinou a ser quase tão fria quanto você.
- Eu te amava, pretinha. E eu sonhava, sonhava com você nos meus braços.
- Amava, mas não demonstrava. – ela se levantou.- Sonhava, mas com os pés no chão.
Ela se virou e foi embora, com as lágrimas escorrendo pelo rosto.
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