8/22/2014

Ela acordou sobressaltada no meio da noite, todo seu corpo suava e tremia sem cessar. Agora acordada não conseguia mais se lembrar do que havia a feito acordar daquela forma mas por um tempo as sensações de frio e calor se misturaram. Ao se dirigir a janela e encarar o céu noturno estrelado ela se perguntou se por um acaso esse não seria o mesmo céu que ele estaria olhando agora. Ou será que lá onde ele estava, do outro lado do oceano, já fosse de manhã e a lua já teria ido se esconder dando lugar a um céu azul e frio. Ela leu tudo que encontrou sobre o país dele e sabia dizer de cor algumas informações: temperaturas baixas, três línguas oficiais (alemão, francês e o neerlandês conhecida como “dutch”), culinária famosa por chocolates e cervejas e tantos etc. Mas saber de tudo isso não ajudava em nada na situação e definitivamente não ajudava a decifra-lo melhor. Porque apesar de saber tudo, como uma boa menina que faz seu trabalho de casa, essas informações eram vazias diante do olhar dele ou do sarcasmo ácido. Ainda não inventaram um “Google” para ensinar a lidar com relacionamentos, com a distância e a dor que ela provocava. Ela estava tentando não estimular a tristeza, tentando não se entregar a esses sentimentos que a puxavam pra dentro de si mesma. Mas era sempre a mesma coisas, as mesmas músicas que tocavam e tudo a lembrava dele e do que não podia lembrar, ou pelo menos não queria.
Pra fugir dos pensamentos ela voltou para cama e checou o celular, um outro rapaz que estava flertando com ela havia mandado trechos de Goethe. Pobre rapaz mal ele sabia que quando ela lia aquilo sua cabeça voava pra bem longe dali e ia lá para o outro lado do mundo onde estava os olhos verdes com os quais sonhava. Por que não simplesmente desapegar de tudo isso e esquece-lo ? Virar as costas e fechar a porta para todo esse sofrimento que agora a corroía por dentro. Mas ali, naquele momento com o celular na mão ela ia mesmo a procura das poucas fotos dele que ainda mantinha guardadas, como aquela dele deitado na cama com um sorriso aberto e convidativo. Não parecia o mesmo homem que respondia "Ok" com tamanha frieza, parecia um homem que era capaz de a abraçar a noite inteira enquanto lhe dava pequenos beijos. Ele era capaz das duas coisas: de ferir e de fazer sarar.
Mas tinha acabado e agora ela sabia disso. Não havia mais saída de emergência ou justificativas. Era o fim. Deitada na cama ela deixou as lágrimas lhe escorrerem quentes pelas bochechas enquanto no seu IPhone tocava aquela música que agora fazia tanto sentido para ela.

"I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real"
The Smiths - I Know It's Over

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