Aquele dia era uma ironia. O céu estava claro e o Sol brilhava ardentemente mesmo depois da tempestade que o antecedera. Apesar de não passar das oito horas eu podia ouvir as vozes que vinham da sala. Eram todas lamentos e ladainhas que não faziam sentido algum para mim.
Acho que eu me destacava naquela procissão de corvos que marchava em direção a capela. Eu usava aquele vestido florido que você tanto elogiava. Achei graça do fato do seu corpo estar na capela, afinal você nuca acreditara em nada daquilo. O que será que as pessoas pensavam ao me ver lá parado do lado do seu corpo com os olhos fixos e o rosto tranqüilo ?
Sabe, eu me lembrava de tudo em flashes. Os passeios de mãos dadas pela orla de Ipanema, as noites jogados na varanda da nossa casa em Botafogo, o “feliz ano novo” sussurrado no meu ouvido enquanto o resto das pessoas no cruzeiro berravam... Lembrava-me desses momentos assim como me lembrava de momentos tão rotineiros que na época pareciam insignificantes, como o som da sua respiração a noite e o barulho do chuveiro ligado de manhã.
Aquelas pessoas ali não haviam presenciado isso tudo, nossa vida calma e feliz. Elas achavam que você foi embora porque quis, que você colocou o arsênico no vinho. Eu não acredito e eu sei que um dia você terá justiça.
Por um momento deixei meus dedos roçarem nos seus. Ai como estavam gelados, meu amor. Eu senti uma solitária lágrima escorrer no meu rosto, mas a sequei rapidamente. Você nunca ia querer minhas lagrimas, então lhe dei meu último sorriso.
"Um tenebroso dia ensolarado então vamos lá onde somos felizes e eu encontro você nos portões do cemitério"
"Um tenebroso dia ensolarado então vamos lá onde somos felizes e eu encontro você nos portões do cemitério"
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