1/03/2013

Clarice

Era engraçado. Bem, talvez engraçado não fosse a palavra certa para definir a angústia que sentia. Estava ali parada há uns trinta minutos. Sentia alguns fios de seu cabelo sendo embaralhados pela brisa noturna, certamente estariam ressecados e cheirando a maresia pela manhã, não que isso importasse.
Era o existencial aqui e agora que importava. Era o mar e suas ondas violentas, era o ar levemente salgado ou talvez até fosse o velho gato malhado que estava preguiçosamente repousado em seu colo. Mas sabia, em seu intimo, que estava desgastando. E bem, nunca vale a pena estimular algo desgastado. Sentimentos, pessoas... vidas desgastadas.
Com uma súbita compreensão se levantou, afastando o pobre gato do colo. Caminhou pela areia até sentir a água gelada do mar molhar os seus dedos do pé. E, pela primeira vez, notou que não estava pensando em nada.
Mergulhou, nadou e flutuou por um tempo indeterminado. Sorrindo, descalça e atordoada ela atravessou o asfalto até o prédio onde morava. O porteiro reclamou da água no piso, mas ela mal ouviu. Clarice finalmente se sentiu livre.

Escrito em abril de 2011

"A noite é tão linda que eu vou ficar. É bom ser menina na varanda, na varanda..."



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