8/27/2013

Acontece

Eu estava parada no ponto de ônibus espremida embaixo dum guarda-chuva quando você parou o carro e perguntou se eu queria carona. Eu já tinha te visto antes, ufa, não era um desconhecido. Aceitei por dois motivos: estava morrendo de fome e queria logo ir para casa e porque detesto ficar na chuva. Pro meu azar você deixou a janela aberta e eu tive vergonha de pedir pra fechar. A chuva era fina e insistente.
No caminho fomos falando de tudo, aproveitando que tava engarrafado. Eu descobri que você fumava Lucky Strike enquanto dirigia, eca, detesto cigarro ! Te achava presunçoso. Você falou da vida e como andava sua tese. Falamos de Freud, de Laplanche, de Lacan e até do Jung. Era bom poder conversar com alguém sobre isso. Perguntou do namorado e eu perguntei da noiva. Estaria tranquilo se não fosse pela tensão no ar, aquela vontade de vomitar toda minha vida em cima de você. E como naqueles filmes bem água com áçucar, coisa que nunca acontece, eu esbarrei na sua mão e toda sem jeito (ou seria sem noção ?) eu me desculpei como se tivesse feito um pecado. Você riu e disse: "acontece" e esbarrou na minha mão.
Você parou o carro e eu saltei. Me sentindo mais importante, me sentido mais inteira. Por que será ? Eu não te amei e você não me amou. Te admirei, de fato, mas não te desejei. Não te quis e você não me quis. Mas foi gentil, mas foi suave, coisa que raramente eu tinha experimentado. Não sei se eu vou te ver de novo e não sei se me sentiria da mesma forma de novo se o visse.
Sabe como é, essas coisas não dá pra programar ou prever. Elas simplesmente acontecem.

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